13.9.06

divagações a meio de uma noite em claro

No único momento em que os olhares se estavam para cruzar, ela desviou-os.

A sua roupa, era do mais simples que poderia existir e no entanto, ela estava mais bonita do que nunca. Uma saia cor de pureza e um top azul-marinho. Sem acessórios… Os caracóis, tocavam-lhe os ombros ao de leve. Tinha apenas um gancho, a prender aquele caracol rebelde que tanta graça lhe dava. Nos pés, uns chinelos, também eles azul-marinho. E ali se encontrava ela, sentada na esplanada. Há já alguns dias que não saia de casa e com muita insistência da Tia, lá aceitou ir tomar um cafezinho. E logo por azar, no entender dela, ele tinha de estar presente.

Ele, como era habitual, tinha umas calças de ganga, uns ténis e uma t-shirt. Desta vez, em vez de gel, tinha um boné posto de forma tosca. Estava acompanhado pelos amigos. Enquanto ela não chegou, ele ria. A conversa naquela mesa devia ser animada, eles tiveram mais de meia-hora, a rir. Há pessoas que ainda conseguem ser felizes. Quando ela chegou, a sua postura mudou rapidamente. Sentou-se direito na cadeira, puxou de um cigarro, acendeu-o e não se ouviu mais nenhuma palavra, vinda da boca dele. Observou-a atentamente. Admirou-a por completo. O seu coração palpitava bruscamente. Era fácil de se notar.

Ela já o tinha visto, ainda não tinha atravessado a rua e baixou logo a cabeça. Ao contrário do que seria de esperar, baixou a cabeça e não mais levantou. Apenas levantava o olhar do chão quando era para responder a uma pergunta da Tia e quando foi para pedir o chá, ao empregado, e a torrada. “Aparada”, especificou ela. E rapidamente baixou os olhos.

Tinham passado 3 meses desde a última vez que tinham estado juntos.
Uma discussão fê-la sair de casa dele e nunca mais voltaram a falar. No início ainda se cruzavam na rua, mas nunca trocaram uma palavra. Mais tarde, ela deixou de aparecer. Nunca ninguém soube o que se passou realmente entre eles os dois, naquele dia. O que as pessoas sabiam era que tinham sido namorados, que a relação tinha terminado, por mútuo acordo, mas que se voltavam a encontrar e a estarem juntos. Até ao dia da fatídica discussão. Comentava-se que ela tinha chegado à rua, de óculos de sol, completamente lavada em lágrimas. Não conseguia ter controlo sobre si própria. Ia contra as pessoas e não se apercebia disso. Estava completamente fora de tudo.
Ele andou desaparecido uns dias… Ninguém sabia nada dele. Um dia, apareceu no café, sentou-se na mesa dos amigos como se nada se tivesse passado. Nunca fez um comentário sobre nada. Não respondia às perguntas sobre ela, sobre ele e sobre o motivo pelo qual ele tinha andado desaparecido. Após algumas tentativas falhadas, as pessoas desistiram de o questionar sobre qualquer assunto relacionado com ela. Um mês e pouco depois, já ele estava, pelo menos aparentemente, bem. Várias foram as propostas de meninas desejosas de o acarinhar. Recusou todas.

A presença dela no café, durou aproximadamente meia hora. Levantou-se e saiu. Saiu na direcção oposta à de sua casa.

E lá se passaram mais uns quantos meses, sem se verem, sem comunicarem, sem nada.

No silêncio da noite, meditavam sobre os acontecimentos. Ambos sabiam que não estava certo aquele afastamento. Ambos sabiam que não era aquilo que queriam. Mas nenhum fazia algo para mudar essa mesma situação. Limitavam-se a chorar e a pensar mas agir, nada. Cada um, procurava as respostas no seu mundo. Queriam uma justificação para o porquê de tal afastamento. Nenhum a encontrava. Simplesmente não havia. Eles eram felizes. Notava-se isso. Independentemente de quais tenham sido os motivos que levaram àquele afastamento, pertenciam um ao outro. E este, era um dado adquirido. Almas gémeas certamente que sim. Feitos um para o outro.

No dia em que se conheceram, o chão tremeu. As flores brotaram e os pássaros cantaram. Tudo se tornou belo, naquele preciso momento. Ambos o souberam. E quem estava presente também. Não havia dúvida alguma que eram um só. Completavam-se. Dava gosto ver a felicidade que irradiava no rosto de cada um.

Nunca fizeram previsões do futuro. Viviam cada dia. Um de cada vez. E um de cada vez, lá se foram passando os dias… Vários dias se passaram e ele e ela continuavam juntos. Um para o outro.

Actualmente, continua sem se saber o que se passou. Mas actualmente eles estão novamente juntos. Dá gosto ver um casal enamorado. Actualmente, por onde eles passam, tudo se torna belo. Actualmente, ela é mãe e ele é pai. Actualmente, estão mais unidos do que nunca. E agora, posso afirmar que continuo a acreditar em príncipes encantados. Só alguns têm a sorte de o encontrar. Outros encontram e não sabem lidar com esse mesmo encontro e há aqueles que estão definitivamente destinados a estabelecer relações, com as pessoas erradas.


Passar o tempo a escrever, sabe bem. Melhor quando se está com uma insónia. E melhor ainda, quando se escrevem umas ideias tolas, muitas das quais sem sentido algum, num lugar tão mágico como este, num lugar repleto de sinceridade, num lugar onde só entra, quem não tem medo de chorar, quem não tem medo de amar. No meu lugar de eleição, criado para aquele que ainda me permite sonhar, aquele que me faz divagar e gritar bem alto que finalmente, me voltei a apaixonar! O POETA.

Ao som de Jessica Ridle – Even Angels Fall