26.7.06

Liberdade de escolha

Filme no “pause”. Thirteen é o título.

Modificações repentinas, na vida de uma adolescente. Outros conhecimentos, outras pessoas, novas experiências. Por vezes positivas… maioritariamente negativas. Assim é a vida. Cada um sabe de si e das suas ambições. Cada um, é livre de escolher companhias e afins.
Tal como a Tracey, também eu já quis ser a “populargirl”. Já me vesti para os outros, as minhas conversas já foram dirigidas para os outros e as minhas atitudes, comandadas pelos outros. Fase curta essa. Não estava apta a entrar nesse mundo. Não. A minha maneira de ser, não se conjuga com essas mentes. Sabe bem, pegar em bastante dinheiro e ir às compras. Sabe tão bem, sacar do cartão e pagar aquela conta que deixa qualquer um de boca aberta. Dar-se ao luxo de gastar um dinheirão por um mísero bocado de pano, ao qual atenciosamente chamam de saia. Poder comprar aquela camisola que é o sonho das amigas, mas que nem todas têm possibilidades de o ter. Sabe bem. Sabe bem, ter a noção que o dinheiro tem poderes fantásticos. “Não traz felicidade”, sem dúvida alguma, mas ajuda e bastante. Momentos da minha vida em que raramente repetia um relógio, uma peça de roupa. Foram momentos bons. Refugiada nas compras. Era o que eu era. Para tudo havia solução – COMPRAS. Gastar dinheiro desnecessariamente.
Ontem, tive uns minutos péssimos, durante o dia. Pensei em ir às compras. E até fui. Perdi a minha terapia. Já não consigo gastar dinheiro assim. Já não consigo comprar por comprar. E então, sentei-me na Brasileira, a beber uma coca-cola. Pensei na minha vida. Nos últimos anos. Nas modificações que a minha personalidade sofreu, nas modificações que o meu corpo sofreu, nas alterações do meu pensamento. Se antes era uma miúda fútil e superficial, agora sou uma rapariga com algum juízo na cabeça e com algumas ideias formadas. Muito graças aos meus companheiros de luta. Luta diária por um mundo melhor. Eu luto para que o meu mundo e o dos que me rodeiam se torne bastante melhor. E em vez de ficar triste, por não ter encontrado nada que me agradasse, fiquei feliz, porque não comprei só por comprar. Não gastei dinheiro estupidamente. Acabada a coca-cola, em vez de ir para as ruazinhas do bairro-alto, continuar a minha busca por algo realmente giro e agradável, levantei-me, atravessei a rua e toquei à campainha da Teresa. A Teresa é a pintora… Amorosa ela. Grande sorriso por me ver. Entrei, sentei-me no sofá, ao lado da “janela do Chiado”, com vista para a Brasileira e conversámos. Muito. Recordei a minha prima Amália, que já faleceu há bastante tempo, recordei ainda outros familiares, vi os projectos, partilhei o meu sucesso escolar, ela partilhou o seu sucesso profissional e pessoal (vai ser novamente avó, desta vez, de uma menina. O Vicente vai ter uma mana e eu mais uma priminha). O tempo foi passando e chegou a hora de jantar. Regresso a casa. Cometi uma excentricidade, voltei para casa de táxi. A família estava em casa à espera… Evitar discussões.
Não comprei uma saia, um vestido, umas calças, um top… Nada! Limitei-me a ficar pelo Táxi e pelo SG Ventil. Soube-me bem, chegar a casa e não ouvir a boquinha do meu pai, sobre gastar muito dinheiro, soube-me bem, chegar a casa com a carteira cheia, tal como tinha saído de casa.
Ao longo do tempo tenho-me vindo a modificar. Bastante. E agora, já não penso em popularidades e “sociaizinhos” reles. Há muito tempo. Efectivamente. Tenho a noção que continuo a mudar, cada vez mais. Estes últimos meses, têm-me dado a volta à cabeça. Não me preocupo com penteados, cores de meias, palavras e expressões. Mantenho a minha postura – tento pelo menos – de menina decidida a vingar na vida. E isso agrada-me. Orgulha-me. Sinto-me bem comigo própria e agora sei, que mereço o carinho d’ O POETA.

E agora vou voltar a carregar no "play".


Ao som de John Mayer – Bigger Than My Body